sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

HORROR DO VAZIO

Sei que pode parecer repetitivo, mas afligem-me as megalomanias se apossando de algumas cabeças que assumem responsabilidades em relação a Luanda. Uns tantos acham que merecemos ter uma capital no estilo Singapura ou Hong Kong, com torres de quarenta andares (no mínimo) ao longo do mar.


Não é forçosamente para amealhar umas comissões, como imediatamente pensam os nossos cérebros borrados de preconceitos, embora uns tantos aproveitem.


Nada de novo, afinal: o mundo está cheio de processos por causa do imobiliário e o cinema e a literatura até já esgotaram o tema. O que me preocupa é muita gente estar sinceramente convencida que isso é que é bonito e assim é que será viver bem. Têm horror ao vazio que nas suas cabeças significa uma praça, um jardim, um parque, um desperdício de espaço que ficaria melhor com uma torre no meio (antes dizia-se arranha-céus, mas reconheço o exagero americano ao inventar o termo, porque os céus não têm costas, são da natureza dos anjos, e ninguém imaginaria um edifício a arranhar as costas de um anjo). Torre é melhor, lembra logo aquelas construções onde se enfiavam os prisioneiros para morrerem lentamente, como a célebre Torre de Londres, ou onde se aninhava o povo da Europa medieval para se defender de ataques. Torre sim, pois os seus utentes/prisioneiros vivem no medo de sair à rua, de viver a cidade, enclausurados e protegidos da miséria que espalham à volta de si.


Queixamo-nos do trânsito na baixa da cidade (não só na baixa, sejamos justos) e nem sempre escapamos de lá cair, porque ali está concentrado mais de metade do capital financeiro e dos serviços do país. E querem fazer mais torres, para atrair mais gente e mais carros? Que as torres vão ter parques de estacionamento, dizem os defensores das ideias futuristas. O problema é entrar ou sair dos parques, porque as ruas estão atulhadas de carros. Claro que há uma solução do mesmo estilo: fazer as ruas da baixa com andares, género auto-estrada em fatias sobrepostas, ou até com viadutos por cima dos prédios, a arranharem as nuvens. Isso seria um arranhanço útil. E já agora peço, façam um túnel por baixo da baía ou uma ponte a ligar o bairro Miramar à Ilha, assim chegamos à praia em cinco minutos, como era há vinte anos atrás. Como de todos os modos a ideia geral é dar cabo da baía e da Ilha, também tanto faz, mais ponte menos ponte… Suponho também que já deve haver negociações para se tirar a Igreja da Nazaré do sítio onde está, a ocupar indevidamente um espaço nobre para mais uma torre. Uma pequena concessão não fica mal, mantém-se a igreja na cave do edifício. A História que se lixe, não foi a lição da destruição do palácio de D. Ana Joaquina? Então continuemos. Neste afã de ocupar todos os espaços, proponho também acabar com o prédio dos correios, bem feio e sem valor arquitectónico por sinal, e já agora com a praceta à sua frente, outro desperdício de espaço. E aquele compacto e azul edifício que serve a polícia? Um quarteirão inutilizado! A polícia pode ocupar um andar da nova torre. Com menos agentes, claro, para se fazer encolher o Estado, assim mandam os compêndios do liberalismo económico, nossa nova Bíblia.


Problema que estamos com ele é que todas essas novas construções vão ter sérias infiltrações de água salgada, pois ali antes era mar. E o mar gosta de recuperar o que lhe roubaram, ainda mais agora com a previsão da subida dos oceanos, como em todas as conferências se apregoa. Vai ser lindo, com as fundações das torres a serem corroídas pelo salitre e os prédios a desabarem. Felizmente para eles, já não estarão cá os responsáveis nem os seus filhos. E os netos dos outros que se lixem.


Pepetela

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Embaixador Barrica aposta na melhoria de banco de dados da embaixada

O embaixador de Angola em Portugal, José Marcos Barrica, disse que uma das prioridades da embaixada para 2010 é a instalação de um banco de dados fiável, para fornecer informações exactas sobre a comunidade angolana.

O diplomata falava na cerimónia de cumprimentos de fim de ano do corpo diplomático, funcionários da Embaixada de Angola em Portugal e por membros de organizações e associações da sociedade civil angolana nesse país.

Segundo Marcos Barrica, em 2009 foram instalados novos equipamentos e sistemas tecnológicos e reforçou-se a capacidade humana, o que permitiu atenuar as dificuldades das representações consulares no atendimento célere às solicitações de cidadãos nacionais e estrangeiros.

Para Marcos Barrica, “este trabalho será prosseguido e melhorado a fim de possuirmos um banco de dados mais fiável, que traduza com maior exactidão possível quantos somos, onde estamos, o que fazemos e como estamos”.

“Este elemento constitui uma premissa inegável na aplicação correcta de medidas de apoio e assistência às comunidades, das quais também se espera, no seu próprio interesse, uma colaboração consciente e responsável nas acções levadas a cabo pelas competentes entidades do Estado” - adiantou.

Marcos Barrica enalteceu a implementação, em 2009, das equipas móveis de registo dos cidadãos nacionais, “cujos resultados se cifraram acima das expectativas”, apontando que “só em actos consulares praticados directamente em vários bairros de Lisboa e localidades adjacentes foram contabilizados cinco mil e 742 registos.

Referiu-se também ao facto de o Consulado Geral de Lisboa ter emitido 28 mil e 746 vistos em 2009.

A seu ver, em 2010, a embaixada deverá aperfeiçoar os níveis de organização do trabalho e de relacionamento entre os funcionários, assim como adoptar medidas tendentes a melhorar as condições de prestação de serviço, “com o intuito de elevar os níveis motivacionais dos servidores públicos e a consequente melhoria do desempenho laboral”.